No momento você está vendo InterPrêta: startup gera renda e assistência social no mesmo negócio

InterPrêta: startup gera renda e assistência social no mesmo negócio

  • Post comments:0 Comentários
  • Reading time:7 minuto(s) de leitura

Jéssica Cardoso criou a startup InterPrêta para atender a demanda pela inclusão de pessoas surdas em Florianópolis (SC)

Dez anos trabalhando como assistente social levou Jéssica Cardoso a perceber uma deficiência em Florianópolis (SC): a falta de acessibilidade para que pessoas surdas se integrassem socialmente. Além disso, sua própria vivência como mulher preta no mercado de trabalho fez com que ela tomasse a decisão de mudar os caminhos de sua carreira, criando a startup InterPrêta.

“Eu penso e acredito no propósito de levar outras mulheres pretas ao mercado de trabalho, com valorização e remuneração adequada, e assim também trazer a comunidade surda para dentro da sociedade, porque hoje ela vive à parte, não consegue acessar os serviços e produtos. A InterPrêta vem pensando nas possibilidades e estratégias para que essa comunidade seja atendida de uma forma humanizada mesmo, porque são pessoas que também precisam ter seus direitos garantidos”, conta Jéssica Cardoso sobre sua empresa.

InterPrêta nasce da inclusão da pessoa surda e da mulher preta

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), o número de surdos no Brasil corresponde a 5% da população, mais de 10 milhões de pessoas em números totais. Destes, 2,7 milhões não escutam nada. Apesar da alta quantidade, só 37% estão inseridos no mercado de trabalho, e mais de um terço atua como autônomo pela falta de oportunidade, conforme um estudo feito pelo Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda.

Jéssica ressalta a importância de fazer um recorte de raça e gênero em sua experiência. Quando trabalhava com carteira assinada, não era bem remunerada e seu serviço não era valorizado, como costuma ocorrer com mulheres pretas. Com o nascimento de sua segunda filha, ela quis ressignificar sua trajetória profissional e decidiu trabalhar por conta própria. No entanto, mais uma barreira se formou: a dificuldade de ver a construção de um negócio em torno da figura de uma mulher preta.

Neste contexto, ela conheceu a B2Mamy, uma Social Tech que busca alavancar os projetos de mães e mulheres. Apesar da empresa estar em São Paulo, Jéssica conseguiu conectar-se com ela no período de pandemia, no qual as fronteiras estaduais foram reduzidas a um clique. 

“A B2Mamy me possibilitou ampliar essa rede e me inserir no mundo das startups dos negócios por meio de um programa de aceleração. Foi aí que fiz as conexões de fato, conheci pessoas que me mostraram as possibilidades dentro da tecnologia, da inovação e das startups”.

Jéssica destaca a importância de promover o empreendedorismo feminino e criar espaços de conexão e troca entre mulheres em Florianópolis. A cidade já possui iniciativas como a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), que procura criar pontes entre empreendedores e fortalecer a evolução tecnológica na capital – área que já superou, inclusive, o turismo em termos de economia para a cidade. Ainda assim, a fundadora da InterPrêta apostou em levar a empresa que a ajudou na formação do próprio negócio para o Sul do Brasil.

A inclusão da mulher preta

Isso porque mulheres negras ainda ocupam cargos subordinados – quando conseguem se inserir no mercado de trabalho. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) de 2019 mostraram que das 40,6 milhões de pessoas que se encaixam nesta classificação de gênero e raça, apenas a metade está no mercado de trabalho, sendo que 3,6 milhões estão no trabalho doméstico e 5,7 milhões no setor informal. Além disso, a maioria recebe até dois salários-mínimos (R$ 2.640).

“Estamos desenhando a expansão da B2Mamy Floripa. Já temos uma conexão com as mulheres de Florianópolis e um grupo muito forte, com alguns encontros presenciais acontecendo. É um fortalecimento enquanto comunidade, porque é algo muito novo na cidade, que vem abraçar a mulher no empreendedorismo e fazer essa conexão, essa troca. Então estamos nesse processo de expansão, com uma comunidade já estabelecida”, conta Jéssica.

A empreendedora diz ainda acreditar na transformação social e na capacidade de mudar as estruturas através da aceitação da mulher preta no mercado de trabalho e das pessoas surdas como integrantes da sociedade. Ela aborda o poder da fala na repercussão de suas ideias, e acredita ser imprescindível ver a potência em si mesmo e naqueles que estão ao redor, apesar das dificuldades impostas pelo racismo, uma “dor silenciosa que vai corroendo a pessoa por dentro”.

“Eu acredito muito mesmo que posso transformar aos poucos a realidade que a gente vive. E o eu sempre falo, a transformação começa com um pouquinho. Faz o que dá hoje, faz mais um pouquinho amanhã, e quando a gente for olhar, a gente já fez uma travessia gigantesca e impactou muitas pessoas. A gente fala de startup, de negócios, de dinheiro, mas onde a pessoa está? O ser humano é prioridade em tudo, porque em qualquer negócio existem pessoas. Então eu acredito no respeito que todos merecem ter”, finaliza Jéssica Cardoso.

Texto: Isabella Placeres / Entrevista: Patricia Travassos

Leia também: Coletivos e eventos aceleram empreendedorismo LGBTQIAP+: Hub+ Diversidade e o Contaí Summit aproximam novos negócios ligados à temática de gênero com potenciais investidores

Deixe um comentário