Amazônia Smart Food, de Priscila Almeida, cresce com linha de produtos veganos a base de biomassa do açaí
O avanço da destruição da Amazônia é um dos maiores desafios do Brasil no enfrentamento da crise climática global, o que nos coloca em um papel estratégico e ao mesmo tempo de muita cobrança na agenda do meio ambiente. Essa batalha, até aqui, tem sido árdua. Pesquisas do Instituto Do Homem E Meio Ambiente Da Amazônia (Imazon) apontam que a área desmatada na Amazônia em março de 2023 é o triplo da registrada no mesmo período do ano passado. Essa foi a segunda maior onda de destruição registrada no primeiro trimestre do ano desde a formação do Instituto, em 2008.
Reverter a derrubada da floresta como modelo econômico para a região é o que impulsiona o nascimento de projetos como o Programa Prioritário de Bioeconomia da Amazônia, que fomenta soluções para o desenvolvimento sustentável da biodiversidade amazônica. A startup Amazônia Smart Food, fundada por Pricila Almeida, foi recentemente adicionada ao programa, bem como ao portfólio do Instituto de Desenvolvimento da Amazônia. Agora, 0,9% dos recursos destinados às indústrias do estado devem ser voltados aos participantes do PPBioeconomia, como a empresa de Pricila.
Formada em economia e pós-graduada em agricultura e desenvolvimento regional, com especialização em Amazon Rainforest Business, a empreendedora afirma que trabalhar com a floresta, fazendo com que gerasse valor agregado e não apenas commodities, sempre foi uma preocupação sua. Mas a ideia de tornar os produtos naturais em alimentos saudáveis e proteicos veio após uma mudança de vida.
Em 2015, foi diagnosticada com esteatose grau 3, e decidiu que precisava emagrecer e comer de modo saudável para cuidar de seus futuros filhos. Foi então que Beto, chefe sênior da empresa e formado pela Le Cordon Bleu, começou a fazer versões saudáveis de comidas tradicionais, ajudando Pricila a perder 25 kg em quatro meses e se curar da esteatose. Juntos, eles viram uma oportunidade de negócios: releitura de comidas gostosas de modo saudável e saboroso. Assim, nasceu a primeira empresa, Santé Comida Saudável.
Logo, alimentos veganos e naturais passaram a ser uma demanda alta na startup, e quando passaram a trabalhar com proteína vegetal, logo se tornou o carro chefe da empresa, criando assim o spin-off, Amazônia Smart Food. “A gente sempre trabalhou com alimentos feitos a mão, o mais genuíno possível. E a gente via que faltava no mercado [de comida vegana] algo que fosse realmente saudável, sem aditivo, sem transgênicos, sem glúten”, explica.
Depois de muito desenvolvimento e estudo, hoje a Amazônia Smart Food trabalha principalmente com a biomassa de açaí, produzindo hambúrgueres, almôndegas e linguiças que possuem a mesma quantidade de proteína que seus similares de carne. A escolha da fruta típica do Norte do país foi feita por já ser uma base conhecida e consolidada no mercado nacional e internacional. Agora, a meta é introduzir o tucumã, que ainda não é uma cadeia estruturada e desenvolvida.
“A missão do desenvolvimento regional é muito forte no nosso propósito, então 60% da matéria prima que a gente utiliza nos nossos produtos é regional, e isso equivale a 20% do nosso faturamento bruto. Então, a cada milhão de reais que a Amazônia vender, 20% vai voltar para a comunidade na compra de insumos regionais”.
A startup possui outro propósito além da produção de alimentos saudáveis. O objetivo é a geração de emprego e renda para trabalhadores do campo, capacitação profissional e treinamento desses produtores de insumo, e um desenvolvimento regional. A previsão de Pricila é a de que, nos próximos dois anos, a empresa estará contribuindo para a preservação de 160 hectares e a recuperação de 40 hectares da floresta amazônica, impactando comunidades tradicionais e ribeirinhas e empregando entre 400 e 500 pessoas.
Com este propósito, a startup foi integrada ao PPBioeconomia, e Pricila diz que já consegue ver uma possibilidade favorável a essa matriz econômica que está em expansão. “É muito importante porque ela gera emprego e renda, não é focada única e exclusivamente na tecnologia, onde você tem mão de obra capacitada, mas não necessariamente emprega volume de pessoas.” É uma possibilidade de agregar valor ao interior do Amazonas, junto às comunidades. “E a Amazônia Smart Food tem tudo a ver com isso, e vem nessa onda favorável que estamos vivenciando”.
Texto: Giulia Deker Rago
Entrevista: Patricia Travassos