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Comida Invisível: startup distribui alimentos para combater a fome.

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Daniela Leite criou a Comida Invisível, uma plataforma de distribuição alimentos que combate a insegurança alimentar levando alimentos de onde sobra para onde falta

De um lado, temos o avanço da insegurança alimentar, agravada pelos efeitos econômicos da pandemia; do outro, a triste posição entre os países que mais desperdiçam comida no planeta. Como conciliar esses dois extremos e criar uma corrente solidária para quem mais precisa? 

Como evitar o desperdício de alimentos?

Essa foi a ideia de Daniela Leite para realizar a plataforma Comida Invisível, que “conecta quem tem alimentos bons com quem precisa deles”. Daniela conta que a ideia surgiu de uma situação trivial, quando foi atrás de frutas para fazer uma geleia com o filho. Depois de uma certa pesquisa, ela foi buscar as frutas no Ceasa e lembra que viu “pilhas e pilhas” de frutas e verduras descartadas, algumas estragadas, mas a maioria apta para consumo. “Eu fiquei absolutamente indignada porque quando eu vi uma pilha de mamão, eu não via mamão, eu via rostos de pessoas que podiam ter aquele alimento e aquele alimento estava no lixo.”

Daniela chegou a conversar com alguns diretores do Ceasa sobre esse desperdício de alimentos que é um dos grandes problemas do mundo e o que poderia ser feito. “O mundo inteiro desperdiça 1,6 bilhão de toneladas de alimentos. Se o desperdício fosse um país, ele seria o terceiro mais poluente no mundo, emitindo 3,3 milhões de gases de efeito estufa no planeta”, calcula Daniela, comparando com o volume ao PIB da Austrália, próximo do US$ 1,6 trilhão de dólares.”

Levantamento do IBGE aponta que o Brasil, infelizmente, ocupa a 10ª posição no ranking mundial de desperdício de comida. Estima-se que 30% dos alimentos produzidos no país são desperdiçados, o que equivale a 46 milhões de toneladas anuais. 

Insegurança alimentar

Junto a isso, vemos o retorno do Brasil ao mapa da fome como uma preocupação nacional. O Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil apontou que 33,1 milhões de pessoas não têm garantido o que comer — o que representa 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome. Conforme o estudo, mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave.

Foi a partir desses problemas e da indignação em relação ao desperdício que surgiu a ideia da plataforma. “A gente podia juntar a fome à vontade de comer e dar match. Igual fazem esses aplicativos de paquera, por exemplo. Então, daí nasceu a nossa plataforma do Comida Invisível que conecta pessoas, empresas e grandes indústrias com ONGs, causas e pessoas, para fazer essa distribuição dos alimentos.”

A plataforma já ajudou a recuperar mais 150 toneladas de alimentos junto com 400 ONGs, beneficiando mais de 2 milhões de pessoas em dois anos.

Daniela também conta que seu salário está muito longe do que já foi como diretora jurídica, mas que “a satisfação não dá para pôr em palavras”. “Às vezes eu olho e falo, era isso que eu tinha que fazer da minha vida mesmo.” “Eu encontrei talvez o meu propósito de existir nessa vida. Eu não posso fazer outra coisa que não seja isso, me dá uma alegria enorme.”

Quem tem alimentos para doar e quer participar, basta se cadastrar no site ou no aplicativo e fazer sua oferta de doação. O site dá orientações sobre como publicar e oferecer sua doação e que os alimentos precisam estar “bons e próprios para consumo, preparados de acordo com as normas de boas práticas da vigilância sanitária, que estejam em boas condições de uso”. Quem tem está interessado em receber essas doações também faz o seu cadastro e pode achar o seu parceiro ideal no combate à fome. Pessoas físicas também podem se cadastrar no site. Lá também é possível encontrar cursos sobre aproveitamentos de alimentos e temas afins em que é possível obter certificados.

Texto: Gustavo Jonck / Entrevista: Patricia Travassos

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