Hub+ Diversidade e o Contaí Summit aproximam novos negócios ligados à temática de gênero com potenciais investidores
A discussão sobre reconhecimento da população LGBTQIAP+ envolve todos os aspectos da sociedade, como o direito à saúde, liberdade sexual e a luta contra o preconceito. E também como uma oportunidade para o empreendedorismo. No Brasil, já existem iniciativas nesse sentido, com a formação de coletivos como Hub+ Diversidade e eventos como o Contaí, o primeiro focado em empreendedores LGBTQIAP+ no país.
O Hub+ Diversidade nasce da iniciativa da Hub+ em promover aceleração de empreendedores e startups com soluções focadas nestas representatividades e diversidades, agrupando empreendedores que sentem a falta de compartilhar experiências com quem passa por situações parecidas. Segundo uma pesquisa do Hub+, 61% dos colaboradores de empresas de inovação escondem sua identidade no ambiente de trabalho, e o objetivo é mudar esta realidade, estimulando o surgimento de novos empreendimentos com founders que representem essa diversidade.
“A gente precisa ter um campo em que a gente se sinta seguro, para que a gente tenha a ousadia de dar passos mais largos, sabendo que eles podem ser dados com segurança”, diz Ádani Robson, fundadora da QTM Healthtech, startup de saúde mental que nasceu a partir da sua vivência no processo de transição de gênero. Destaque na temporada Inovar do Fora do Eixo, ela reforça a importância do apoio durante o processo de inovação.
Hub+ Diversidade no combate ao preconceito contra pessoas LGBTQIAP+
O LinkedIn divulgou uma pesquisa no ano de 2022, afirmando que quatro em cada dez pessoas LGBTQIAP+ relatam ter sofrido discriminação no ambiente de trabalho, número que aumentou desde o início dessa pesquisa, em 2019. Por isso, além da aceleração, o Hub+ Diversidade pretende capacitar estas pessoas em tecnologia da informação para ampliar e facilitar sua empregabilidade.
Já o evento Contaí acabou de promover sua quinta edição no dia 06 de abril de 2023, em São Paulo. O Contaí Summit é um evento gratuito de negócios para empresários e empreendedores LGBTQIAP+, que reuniu referências na área do empreendedorismo brasileiro para compartilhar estratégias e ideias de como superar os desafios e o preconceito, e acelerar o processo de desenvolvimento de negócios gerenciados por pessoas da comunidade.
O tema da edição mais recente foi justamente “Encontro de mulheres LGBTQIAP+ que empreendem”, e além de ser um espaço para conversas e networking, contou com palestras e shows artísticos. O evento foi criado pela Nhaí, agência focada em diversidade e inovação.
Como explica Ádani Robson, sua identidade de gênero foi o que definiu seu futuro e o de sua irmã dentro do universo de startups. Com o objetivo de concluir seu tratamento médico para transição de gênero, a empreendedora buscou medicinas alternativas, além de terapias para lhe ajudar a enfrentar as adversidades e preocupações de ser uma mulher trans no Brasil. Assim nasce a QTM Healthtech, como uma empresa de saúde que deseja democratizar o acesso às práticas complementares da medicina tradicional, como a homeopatia, a quiropraxia e a ayurveda.
As lutas que a gente está travando agora não são individuais. A luta que eu travo é para que tenham outras travestis no ecossistema e que eu não me sinta só nos ambientes
Ádani Robson
Pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP no ano de 2022 afirma que 31% do grupo LGBTQIAP+ no Brasil é atendido no que é considerado hoje o pior acesso à saúde no país, enquanto entre os não-LGBTs essa porcentagem cai para 18%. O acesso ao sistema de saúde, tanto para tratamentos hormonais ou de transição, quanto para não relacionados, é ainda mais precário para membros da comunidade, e isso refletiu na criação da QTM Healthtech. Ao lado da irmã Juliana, Ádani entra para o mercado de saúde digital, e em pouco tempo, sua plataforma está disponível também no Chile e Peru.
A experiência LGBTQIAP+ é tão importante para Ádani quanto para Day Molina, estilista que criou uma marca de roupas feita por pessoas indígenas e da comunidade. Sua equipe é 100% composta de mulheres indígenas e racializadas, LGBT e imigrantes, que buscam causar um impacto ambiental no mundo da moda. “Então eu vejo a moda como uma expressão política, social, ativista. Não enxergo moda só como estética, eu acho que a moda é uma ferramenta de luta” diz Day.
A empreendedora vê suas criações como expressões de sua identidade, e da força que essa identidade possui, da retomada do lugar que foi tirado de alguma forma dela e de outras mulheres que compartilham da sua luta e de seu empreendedorismo. “Porque no final das contas, aquilo que a gente é não muda.”
Para ela, o coletivo impulsiona possibilidades e cria um local de inovação que permite novas perspectivas, no qual é possível compartilhar experiências e pontos de vista. Day afirma que se recusa a ser o “um por cento” da sociedade “A gente tem que ter representatividades locais, comunitárias, lideranças diferentes” afirma.
Texto: Giulia Deker
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