Aplicativos de denúncia da violência doméstica, capacitação no setor da construção civil e cuidados com a saúde são soluções encontradas por empreendedoras
As situações de vulnerabilidade social podem ser obstáculos para a profissionalização das mulheres. Com a missão de mudar a realidade das brasileiras por meio do empreendedorismo, três startups de diferentes áreas oferecem apoio para melhorar a qualidade de vida da população feminina.
A taxa de participação feminina no mercado de trabalho ultrapassa 50%, enquanto a masculina segue bem à frente com 70%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ainda assim, esse número vem crescendo nas últimas décadas. Uma estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que 64,3% das mulheres estarão empregadas ou buscando um trabalho até 2030.
Nos últimos anos houve um aumento expressivo em casos de violência contra a mulher, sendo que mais de um terço das mulheres no país sofreram agressões físicas ou sexuais em 2022, de acordo com o levantamento “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil”, do Fórum de Segurança Pública. Segundo Thaís Folego, editora-chefe da Revista AzMina, veículo que aborda questões de gênero, “o Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo e tem estatísticas que indicam que a cada oito minutos uma mulher é agredida”
Startup PenhaS: aplicativo contra a violência doméstica
O PenhaS, aplicativo criado pela startup AzMina, é uma das soluções que buscam mudar essa realidade. Ele oferece informação, acolhimento e ferramentas de pedido de ajuda para mulheres vítimas de violência, funcionando como uma rede de apoio rápida e prática. Durante a pandemia, os downloads do app aumentaram em 40%, de acordo com Thaís:
“As mulheres ficaram confinadas com seus agressores e as oportunidades de fazer denúncias ou procurar ajuda — antes possíveis em saídas de casa para tarefas diárias — deixaram de acontecer. Elas tiveram que buscar meios de fazer isso de forma digital e o aplicativo foi uma dessas opções.”
Thaís conta que a tecnologia é um meio para ampliar o trabalho que vem sendo feito: uma das funções do aplicativo permite que as mulheres, ao identificar uma situação de perigo, acionem um botão de pânico que envia a localização em tempo real para contatos de segurança previamente estabelecidos no cadastro. Assim, as mulheres conseguem pedir ajuda mesmo em situações difíceis e aumentar sua segurança.
Lugar de fala (e de trabalho)
Startup Ela Faz: capacita mulheres na construção civil
Já a empreendedora Livia Viana criou o Ela Faz, uma empresa que capacita mulheres para trabalhar na construção civil e intermedia a contratação de mão de obra feminina. Engenheira civil, Livia é empreendedora há anos e, em 2020, percebeu a necessidade que muitas mulheres tinham de fazer cursos na área e se inserir no mercado de trabalho.
No Maranhão, onde a startup atua, apenas 3% das mulheres trabalham na construção civil. Em um setor tradicionalmente masculino, o processo de transformação cultural é um desafio e leva tempo, mas é essencial para incluir mais mulheres nas mais diferentes áreas, afirma a empreendedora.
“Sempre olhei para as empresas como oportunidades de fazer com que os funcionários pudessem mudar de vida. Mas, quando investi na Ela Faz, foi um propósito muito maior. Era possível impactar não só quem está dentro, mas fora também.”
Remédio Em Dia, startup que auxilia a saúde da mulher
Na área da saúde, a médica especialista em câncer de mama Simone Nascimento, criou a Remédio Em Dia, uma startup que intermedia a compra de remédios de uso contínuo a fim de facilitar a adesão de mulheres a tratamentos. “Muitas mulheres deixam de fazer tratamento para comprarem remédios do marido, do pai, dos filhos”, conta a empreendedora.
O foco no público de média e baixa renda parte da dificuldade que muitas famílias têm de manter os tratamentos devido ao alto custo dos remédios. Apesar da startup não existir mais, o propósito segue vivo: Simone continua trabalhando em projetos para promover o bem-estar e a saúde feminina.
Texto: Júlia Bonin / Entrevista: Patricia Travassos
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