Débora Lins, fundadora da Bee Soluções Empreendedoras, detalha porque muitas mulheres começam a empreender, mas desistem após um ou dois anos
O relatório do SEBRAE de Empreendedorismo Femino descreve a jornada múltipla que as mulheres enfrentam em números visíveis: em média, elas dedicam 21,4 horas semanais a afazeres domésticos, enquanto homens dedicam apenas 11 horas. O documento traduz essas horas em um dos porquês de mulheres dedicarem menos tempo aos seus próprios negócios, tendo menos horas no dia “livres” para planejar seu trabalho, gerir seu empreendedorismo, fazer a divulgação e de fato trabalhar nele.
Porém, ainda com a desvantagem da chamada “dupla jornada”, o IBGE revelou em 2022 que o número de mulheres abrindo seus próprios empreendimentos apenas cresce, chegando a 10 milhões de donas de negócios no Brasil. Debora Lins, sócia-fundadora da Bee Soluções Empreendedoras, explica que esse número cresce pela necessidade, mas diminui ao longo dos anos. As mulheres começam a desistir de seus empreendimentos após o terceiro ou quarto ano, quando chega o momento de escalar a produção, aumentar a divulgação e contratar mais pessoas. A culpa, segundo ela, vem em partes da síndrome do impostor. “Eu percebo que muitas mulheres possuem uma carreira interessante, mas quando se fala de empreender, ela se sente muito incapaz, mesmo mulheres muito competentes profissionalmente.”
Quando eu faço o planejamento, eu tenho uma visão do que é o meu negócio, das necessidades que eu tenho. Então a gente sempre volta para esse alicerce que é o planejamento. Qual é a estrutura para construir esse negócio de uma forma que eu realmente consiga sustentar ele por cinco, dez, quinze anos, e que consiga gerar valor para outras famílias que vão estar dentro da empresa? Isso é muito bonito de se falar, mas na prática as mulheres têm medo.
Debora Lins, da Bee Soluções Empreendedoras
Debora afirma também que mulheres decidem empreender pela necessidade de ter um emprego que as sustente, mas também de passar mais tempo em casa. Ela mesma passou por isso, fundando a Bee Soluções Empreendedoras quando seu filho Samuel nasceu. “Eu estava sentindo muita falta de acompanhar o crescimento dele, e eu tinha vontade de me sentir livre profissionalmente”.
Rede de apoio e comunidade são fundamentais
Outro fator que faz com que as mulheres desistam de empreender é a falta de comunidade e de representatividade, ou seja, de ver mulheres em cargos de liderança e de realmente conhecê-las e ter um grupo com o qual é possível tirar dúvidas e falar sobre os problemas. Empreender é uma tarefa muito solitária, e principalmente mulheres se sentem muito sozinhas ao olharem para outras empresas no mesmo nicho da sua e verem apenas homens. O coletivo é muito importante para evitar a resistência, explica Debora Lins. “Existem muitos núcleos de apoio ao empreendedorismo feminino, mas as mulheres acabam ficando presas dentro do seu operacional e não olhando isso como um fator fundamental. Então ela não busca ajuda, e fica sozinha com os pensamentos dela”.
A inovação e a tecnologia são nichos dominados por homens, e seus projetos são mais favorecidos por investidores e mesmo clientes. Letícia Deus, coordenadora de RH da RB Serviços, afirmou a uma entrevista da CNN que existe uma tendência entre instituições financeiras de desvalorizar ideias e projetos feitos por mulheres, ou que as tenham como público alvo, além de terem seu conhecimento técnico questionado e desacreditado, mesmo com uma taxa de escolaridade mais alta. De acordo com um estudo de 2016 do IBGE, as mulheres de 15 a 17 anos de idade tinham frequência escolar líquida de 73,5% para o ensino médio, contra 63,2% dos homens, além de um atraso escolar menor.
Contra todas as desvantagens, Debora Lins afirma que os grandes alicerces do empreendedorismo feminino devem ser o planejamento, o coletivo, e trabalhar com o que se acredita e que faz sentido para a pessoa. “Porque dessa forma, nos dias mais difíceis, em vez de você querer desistir, vai buscar formas de mudar esse resultado. Arregaçar as mangas e lutar para mudar o jogo”.
Texto: Giulia Deker