Ainda que exista pouco espaço dedicado à mulheres empreendedoras, construir conexões é vital para alavancar negócios com a força das comunidades de inovação
Dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostram que mais de 24 milhões de mulheres empreendedoras brasileiras tocam seus próprios negócios, o que contribui para movimentar a economia e gerar empregos. Não é surpresa que o empreendedorismo digital se destaca como um campo promissor e repleto de oportunidades.
Cada vez mais mulheres ingressam nesse universo, enfrentando desafios e obstáculos ao buscar o crescimento de seus negócios. É por isso que as aceleradoras, comunidades e agências do governo desempenham papéis cruciais no fomento ao ecossistema de inovação, fornecendo apoio, recursos e oportunidades para impulsionar o crescimento e escalar as atuações de mulheres empreendedoras.
Um estudo realizado pelo Mckinsey Global Institute aponta que a promoção da igualdade de condições de trabalho entre homens e mulheres aumentaria em cerca de 30% o Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil.
Nesse contexto, ao participar de uma comunidade, as empreendedoras digitais podem descobrir oportunidades de networking, de desenvolver habilidades e conhecimentos específicos e de receber feedbacks importantes a respeito de suas ideias de negócios, facilitando a transposição de barreiras principalmente para iniciativas em estágio inicial de desenvolvimento.
Para Renata Zanuto, co-head do Cubo Itaú, é preciso ter em mente, em todos os momentos, que a jornada do empreendedorismo feminino será sempre desafiadora. “Vai ter um momento que vai dar tudo errado. Em outro, ela [a empreendedora] vai estar desesperada e, depois, estará comemorando. Como saber usar a melhor versão de todas as formas para fazer dar certo?”, questiona.
A executiva trabalha na curadoria de startups em fase de tração e com potencial de escalabilidade, criando um ambiente para impulsionar os negócios. Dessa maneira, o papel das aceleradoras é fornecer suporte às empreendedoras com programas que incluem: mentoria, treinamento, networking e, em alguns casos, financiamento.
“A jornada do empreendedor é muito complexa. O autoconhecimento, saber como utilizar da melhor forma os poucos recursos que você tem e as suas próprias competências acabam fazendo total diferença.”
Renata Zanuto, Co-Head do Cubo Itaú
Jornada da empreendedora não é fácil, mas pode ser mais simples quando compartilhada
Não é fácil empreender “do zero”, muito menos estando sozinha. Essa luta pode e deve ser compartilhada com outras mulheres que vivem desafios semelhantes. Ao falar do acesso ao ambiente de startups, Jéssica Cardoso, fundadora e CEO da InterPrêta, explica como seu negócio foi alavancado para gerar impacto social em Florianópolis, segunda cidade mais empreendedora do Brasil de acordo com o relatório do Índice de Cidades Empreendedoras (ICE) 2023. Para ela, ainda há um longo caminho a ser percorrido em relação ao empreendedorismo feminino e à igualdade de oportunidades, mas o futuro promete.
“Ao enxergar essa desvalorização [de mulheres pretas], decidi criar uma estratégia para ressignificar essa situação para mim, para outras mulheres que estão nessa caminhada e, principalmente, para minhas filhas. Assim, decidi abrir meu próprio negócio.”
Jéssica Cardoso, fundadora e CEO da InterPrêta
A empresária cita ainda o papel fundamental da socialtech B2Mamy. A iniciativa trabalha para capacitar, orientar e incentivar mulheres que são mães a desenvolverem seus próprios negócios. “Enquanto mulher preta, as dificuldades são muito maiores. É complicado fazer as pessoas olharem para uma mulher preta e vê-la à frente de um negócio. Esse é um diálogo que ainda precisa ser muito aprofundado”, afirma Jéssica.
As empreendedoras que participam de iniciativas desse tipo podem se conectar a mentores experientes, a investidores estratégicos e às comunidades que fornecem orientações valiosas, ajudando na validação do modelo de negócio, refinando a estratégia de marketing e auxiliando no processo de desenvolvimento de produtos e serviços.
Criando propósitos que potencializam um produto ou serviço
No que se refere a iniciar uma startup, Ivonete Guarino, CEO da Vô Contigo, destaca a importância do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para tirar a ideia do papel. Ela atua no setor da economia prateada – mercado de produtos e serviços para pessoas idosas em Cuiabá, no Mato Grosso.
A ideia de negócio surgiu a partir de uma experiência pessoal – Ivonete cuidou de um familiar com Alzheimer e acompanhou todo o progresso da doença durante dez anos. Pensando em soluções para facilitar esse cuidado, em 2019 decidiu abrir o próprio negócio. “Ao fazer uma pesquisa de mercado, constatei algo que eu já sabia por experiência própria: as pessoas não pensam em soluções para pessoas idosas. É como se eles fossem invisíveis. Rascunhei as ideias em dois dias e fui ao Sebrae apresentá-las. Assim nasceu a Vô Contigo”, conta.
A startup atua no transporte seguro e humanizado para o público 60+, facilitando a vida de pessoas que, como ela, cuidam de alguém e precisam de apoio.
É dessa maneira que, ao participar de uma comunidade, as empreendedoras digitais podem descobrir oportunidades de networking, de desenvolver habilidades e conhecimentos específicos e de receber feedbacks importantes a respeito de suas ideias de negócios. Assim, é possível reduzir a sensação de isolamento que algumas empreendedoras podem enfrentar ao longo de suas jornadas.
“Às vezes, parece que a única coisa que existe aqui [em Cuiabá] é o agronegócio. Mas não se resume a isso. Temos potencial para explorar coisas que não estamos explorando.”
Ivonete Guarino, CEO da Vô Contigo
Há ainda as agências do governo que desempenham um papel importante na criação de um ambiente favorável ao empreendedorismo digital e na implementação de políticas e programas para dar apoio às empreendedoras. O Sebrae é um exemplo. Por meio de incentivos fiscais, de subsídios e de financiamentos especiais, promove a inclusão de gênero em programas de fomento ao empreendedorismo.
Para Luana Wandecy, fundadora da Blindog, startup voltada ao mercado PET no Rio Grande do Norte, a união de pessoas em uma rede de apoio é fundamental para o desenvolvimento dos negócios. Segundo ela, no Rio Grande do Norte, o ecossistema de startups ainda não é tão movimentado quanto em São Paulo, mas existe uma organização de modo que as pessoas acabam se conectando, se conhecendo e crescendo juntas, por meio do Jerimum Valley.
“Se você for tentar empreender sozinho, a chance de dar errado é gigantesca, porque quando você está com a rede de apoio (…) você vai ter uma grana para lhe ajudar.”
São iniciativas desse tipo que ajudam a eliminar barreiras e a promover a igualdade de oportunidades para empreendedoras digitais, contribuindo para o desenvolvimento de um ecossistema empreendedor mais diversificado e inclusivo.
Luana Wandecy, CEO da Blindog
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Texto: Mariana Mello e Pedro Braga / Entrevistas: Patricia Travassos
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