Crescente presença feminina no mercado de franquias acompanha tendência de aumento da participação das mulheres em cargos de liderança em diferentes setores
Nos últimos anos, o número de mulheres à frente de negócios no Brasil tem crescido significativamente. De acordo com um levantamento do Sebrae, a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o país tinha 10,3 milhões de mulheres liderando empresas no final de 2022. Isso representa 34% do total.
No que se refere a franquias, o Sebrae aponta ainda que 49% das unidades no país são gerenciadas no dia a dia por mulheres. Além disso, segundo o Portal do Franchising, no Brasil, 48% das pessoas que buscam um investimento desse tipo são mulheres. Conversamos com Sylvia Barros, presidente da Comissão de Ética da ABF (Associação Brasileira de Franchising). Confira 10 perguntas e respostas sobre franquias:
1. Como você avalia o mercado de franquias atualmente?
Neste segundo trimestre, o mercado de franquias acumula oito trimestres consecutivos de crescimento, uma curva que desenha não apenas uma forte recuperação como um crescimento frente aos nossos níveis de 2019. Além da resiliência do nosso sistema, os últimos anos foram de intensa digitalização e revisão de modelos de negócio, a fim de atender aos novos anseios do consumidor. Creio que saímos fortalecidos dessa situação.
2. Quais são os tipos de franquias mais comumente lideradas por mulheres?
Aqui precisamos fazer uma diferenciação. Hoje, de acordo com os dados da ABF, apenas 19% das empresas franqueadoras, ou seja, que concedem franquias, são lideradas por mulheres. Ainda temos muito a crescer. Já entre as unidades franqueadas, dados do Portal do Franchising mostram que 48% das pessoas que buscam uma franquia são mulheres. Vemos mulheres liderando diversos segmentos como alimentação, saúde, beleza e bem-estar, moda, educação, entretenimento e lazer. A presença feminina existe em todos os segmentos do Franchising.
3. Quais características femininas que são bem-vindas ao negócio de franquias?
O Franchising é um modelo de negócios baseado em relacionamento. Franqueador e franqueado são parceiros de negócio e trabalham o tempo todo juntos. A aptidão para lidar com pessoas é essencial no setor, e essa costuma ser uma característica forte nas mulheres. Todo franqueado é um líder em sua área de atuação, em sua unidade de franquias. E as mulheres têm um papel fundamental de liderança, e na formação de novas líderes. O Franchising ético e consciente implica no cuidado com todos os stakeholders, e as mulheres também se sobressaem neste aspecto.
4. Qual é o mito mais comum quando se trata de franquias?
Primeiro, a percepção equivocada que, ao se comprar uma franquia, o negócio vai “andar sozinho” ou o franqueador vai cuidar de tudo. Na realidade, o sucesso de uma unidade de franquia é diretamente proporcional à dedicação do franqueado ao negócio. As atuações do franqueado e do franqueador são complementares, ou seja, um não funciona sem o outro. O papel do franqueado de liderança e de gestão do negócio na ponta é tão essencial como o papel do franqueador de gestor da rede.
5. E qual o segundo mais comum?
O segundo mito muito comum é considerar que franquia é um investimento meramente financeiro, e sem risco. Podemos afirmar com toda a segurança que investir em uma franquia é muito menos arriscado que montar um negócio independente. Porém, isso não significa que não haja riscos. Todo negócio tem risco. E como o envolvimento do franqueado é essencial para o sucesso do negócio, uma franquia passa a não ser a melhor opção de investimento quando se visa simplesmente o retorno financeiro.
6. O que faz uma franquia dar errado?
Nem todo mundo tem perfil para ser franqueado. A inadaptação ao sistema é uma das principais causas de insucesso. O Franchising é um sistema muito eficiente de expansão de negócios, mas o cuidado com a responsabilidade nesse processo de expansão deve ser grande. Se o franqueado não tem afinidade com o segmento, não tem perfil para seguir regras e obedecer aos padrões, se tem dificuldade de reportar resultados ou não conhece a área de atuação, o sucesso de sua operação pode ficar comprometido.
7. Além da falta de adaptação, que outros aspectos podem prejudicar o resultado de quem deseja ter uma franquia?
Se o franqueado não pesquisou a fundo a empresa franqueadora onde pretende investir e percebe que suas expectativas não estão sendo atingidas, o sucesso de sua operação também pode ficar comprometido. Escolher bem o ponto comercial, estar atento à concorrência e a mudança de comportamento dos consumidores são outros pontos chave de atenção que devem ser cuidados em parceria com o franqueador.
8. Como as mulheres empreendedoras estão contribuindo para o crescimento e diversificação do setor de franquias? Quais são os desafios específicos que elas enfrentam ao liderar franquias e como estão superando esses obstáculos?
Além das características já citadas de maior aptidão para a gestão de pessoas e para liderança por parte das mulheres, destaco ainda a habilidade das mulheres para multitarefas, uma característica importante para todo empresário, que precisa cuidar de diversos aspectos do negócio, e a capacidade para tomada de decisões.
O principal desafio continua sendo a quebra de barreiras no mercado ainda dominado por homens. Porém, vemos grandes avanços de participação de mulheres em cargos decisórios, e vemos o Franchising como um setor cada dia mais inclusivo.
9. Pode compartilhar exemplos de histórias de sucesso de mulheres que lideram franquias?
A vice-presidente da ABF, Adriana Auriemo, é fundadora e CEO da Nutty Bavarian, uma marca reconhecida de nuts com grande presença nacional. Outro caso famoso é o de Cleusa Maria da Silva, CEO e fundadora da Sodiê, reconhecida marca de doces.
10. Qual é o impacto das franquias lideradas por mulheres nas comunidades locais? Como essas franquias estão promovendo a igualdade de gênero e servindo de inspiração para outras mulheres que desejam ingressar no empreendedorismo?
Franquias lideradas por mulheres têm um impacto positivo em áreas como a criação de empregos, porque geralmente contratam outras mulheres, oferecendo oportunidades de emprego e desenvolvimento de habilidades para mulheres na comunidade. Essas mulheres podem se tornar modelos inspiradores para outras mulheres interessadas em empreendedorismo, através de perspectivas únicas e ideias inovadoras para seus negócios e comunidades. Muitas vezes, estão profundamente envolvidas nas comunidades locais, apoiando causas locais, patrocinando eventos e contribuindo para o desenvolvimento da comunidade. Isso reforça seu papel como líderes influentes e inspiradoras.
Texto Pedro Braga
Edição Mariana Mello
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