Se fossem monetizados, trabalhos ligados ao cuidado, tradicionalmente realizados por mulheres, a equivaleriam a 11% do PIB nacional
Criar e educar os filhos, fazer comida, cuidar de idosos da família e gerenciar a casa. Se mães, filhas e demais mulheres recebessem um salário por isso, quanto acumulariam durante a vida? Esses e outros trabalhos domésticos não remunerados, historicamente exigidos e executados por pessoas do sexo feminino, são fundamentais para o funcionamento da sociedade. Do inglês care economy, resumem o que se chama de Economia do Cuidado.
Segundo um levantamento da ONG Think Olga, mulheres gastam por volta de 61 horas semanais em trabalhos não recompensados financeiramente no Brasil, o que equivaleria a 11% do PIB do país caso fossem. O Laboratório de Inovação Social Mulheres em Tempos de Pandemia, fundado pela mesma instituição, afirma ainda que, em termos globais, os trabalhos femininos não pagos representam uma economia 24 vezes maior do que a do Vale do Silício.
Historicamente, os grandes trabalhos de liderança e os cargos mais importantes de empresas são sempre ocupados por homens, e é imposto às mulheres que permaneçam em cargos secundários para terem tempo de realizarem todos os outros afazeres da casa. Os homens chegam a tomar parte das responsabilidades domésticas, mas não são todos. O IPEA 2015 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) relata que mais de 90% das mulheres realizam tarefas de casa, número que se manteve intacto por quase 20 anos de pesquisa, assim como o dos homens: menos de 50%.
Como a Think Olga conclui, todas as demais esferas da sociedade se aproveitam deste trabalho gratuito, que cria jornadas duplas de trabalho para mulheres, sem promover dinheiro ou autonomia para quem os pratica e as deixando mais restritas a conquistarem outros objetivos, sejam cargos ou salários melhores, mais estudo ou tempo para se qualificar.
O papel das mães na economia do cuidado
Em novembro de 2022, a comissão da Mulher da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei que prevê alterações no plano da Previdência Social, incluindo a criação e cuidado de filhos como tempo de serviço para a aposentadoria. Para cada filho nascido, o projeto prevê um ano de acréscimo, o que foi visto como uma medida simbólica por muitas, já que 360 dias não cobrem uma vida inteira de trabalho. Segundo levantamento do Think Olga, por exemplo, apenas o ato de amamentar durante o primeiro semestre de vida da criança conta 650 horas, em média.
Pela falta de apoio em empresas e enfrentando jornadas de trabalho duplas, algumas mulheres se voltam ao empreendedorismo, ou mesmo veem a economia do cuidado como inspiração para um novo tipo de trabalho. A empreendedora Marília Teófilo, founder da Eduqhub, plataforma de ensino de empreendedorismo para crianças, é mãe de cinco filhos e teve a educação deles em mente ao criar sua empresa.
“Costumo falar que tenho uma escola em casa, porque são filhos na Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II, e no Ensino Médio. Sem eles, eu jamais teria fundado a Eduqhub” diz Marília, que vê a maternidade atrelada ao seu empreendedorismo, tendo seus filhos como fonte de inspiração e criatividade. Ela sentiu que a escola não estava preparando seus filhos da maneira que esperava, e seria mais uma responsabilidade que cairia sobre ela, trabalhando o desenvolvimento de habilidades sociais.
Hoje, a Eduqhub é uma plataforma lúdica que pode ser adotada por escolas, baseada na gameficação do aprendizado, com trilhas para diversas faixas etárias, e que trabalha o desenvolvimento de habilidades como liderança, criatividade, e trabalho em equipe.
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Texto: Giulia Deker