Criada a partir da experiência pessoa de transição de gênero da fundadora Ádani Robson, QTM Healthtech expande oferta de serviços de saúde sem limite de fronteiras
A primeira startup internacionalizada do Maranhão foi criada por duas irmãs. Uma, na tentativa de ajudar a outra no seu processo de transição de gênero, vai atrás da medicina alternativa. Concluído o tratamento, percebem, juntas, a relevância das terapias integrativas para lidar com as mais variadas adversidades enfrentadas pela humanidade. Assim nasce a QTM Healthtech, como uma empresa de saúde que deseja democratizar o acesso às práticas complementares da medicina tradicional, como a homeopatia, a quiropraxia e a ayurveda.
Oportunidade para crescimento no mercado é o que não falta: os tratamentos alternativos vêm ganhando cada vez mais adeptos no Brasil. Em 2020, de acordo com pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 61,7% da população procurou as práticas como forma de autocuidado, em grande parte no Centro Oeste.
A internacionalização da startup QTM Healthtech
“Já nascemos com a ideia de levar a nossa solução daqui para outros lugares”, conta Ádani Robson, a empreendedora que, através da auto descoberta de ser mulher, impulsionou a criação da healthtech ao lado da irmã Juliana Nogueira. Com a percepção de que o conceito das terapias integrativas deveriam ser levadas para o mundo, começaram por Dubai, um dos lugares onde o mercado de tecnologia e de inovação se mostrava mais aberto aos investimentos.
O cofundador é Zeeshan Shaik, emiradense que acreditou no projeto logo nos seus momentos iniciais e embarcou com as irmãs na jornada de tornar as técnicas alternativas de cuidado e tratamento de saúde socialmente acessíveis. Outra estratégia para internacionalizar a healthtech foi a aplicação no edital para investimento da aceleradora norueguesa Usina de Startup. Com isso, a ideação da QTM Healthtech para o Chile e o Peru já está em curso.
O mercado da saúde digital está em crescimento exponencial. Entre 2019 e 2022, o investimento em healthtechs no Brasil foi de R$ 1,79 bilhão, de acordo com levantamento da Liga Ventures e PwC Brasil. Problemas de saúde mental dão um grande impulso ao segmento, sobretudo após o surto da Covid-19. Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que os transtornos de ansiedade de depressão aumentaram em 25% globalmente. Outro estudo, do Ipsos para o Fórum Econômico Mundial, destaca que 53% dos brasileiros relataram piora no estado psicológico pós-pandemia, um dos índices mais altos dentro de uma lista de 30 países.
Para não naufragar diante desse potencial de mercado, Ádani enfatiza a importância de existir – pensando como empreendimento em tecnologia – uma rede de proteção financeira sólida e um ecossistema de inovação diverso capaz de empoderar negócios jovens, como foi seu caso.
“Precisamos ter um campo que a gente se sinta segura para ter a ousadia de dar passos mais largos, sabendo que eles podem ser dados com segurança. Às vezes um fator muito limitante é você estar sozinha e ter medo de acontecer algo e não ter com quem contar.”
Segundo levantamento da Cortex, plataforma de inteligência que viabiliza vendas entre empresas, em 2022 havia 11.562 startups ativas no país. Dentre elas, 22% eram voltadas para a área de serviços. No entanto, o Maranhão não chegava nem perto de compor o ranking de inovação brasileiro, protagonizado pelo eixo Rio-São Paulo.
A falta de representatividade, enquanto travesti e maranhense, sempre incomodaram Ádani. Apesar disso, sua esperança reside na possibilidade de ocupar esses espaços e facilitar o acesso a ambos os grupos. “A partir do momento que eu tenho essa vivência política, eu posso abrir portas para uma comunidade mais diversa e para outras pessoas se sentirem mais acolhidas. Os avanços, o desenvolvimento local e o comprometimento das pessoas em construir uma nova realidade é algo que me alimenta a alma”, finaliza.
Texto: Maria Edhuarda Gonzaga / Entrevista: Patricia Travassos
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